sexta-feira, 6 de março de 2015

Oito poemas de Mathias Raws: O ciclo de Natália



Ciclo de Natália

Quarta-feira

Pequena fada de porcelana
caminhando leve com seus passos
                                           de borboleta ou
severa deusa
séria - sensual - solitária lua
iluminando com seus olhos de paz
os caminhos adiante

queria seguir seus passos, pisar
onde você pisa
beijar todo dia os seus pés (despet)alados

Quinta-feira

Esse coração, essa dura & firme fortaleza,
como eu queria tomá-la de assalto
e fincar minha bandeira branca
em sua alta torre

Cultivar seus jardins
até enchê-los de rosas
e depois tecer uma cama de pétalas
para você descansar sua beleza
de índia iluminada

Suportar sua fúria e ouvir
suas broncas
com um sorriso impassível no rosto
feliz por tê-la como a tutora de meu coração.

Sexta-feira

Seus cabelos, esse oceano de delícias
de onde eu nunca deveria ter saído
desde aquela mágica/trágica primeira vez
em que entrei por entre eles

Seus cabelos, lugar de nirvana,
quebra dimensional, não-lugar,
onde um monge pode encontrar a (ilum)inação
e tornar-se um buda
um (silen)cioso e realizado buda
vencido por esta dimensão de perfumes, castanha maciez
e amorável loucura

Sábado

Menininha linda & retalhadora
que sorri
enquanto rasga minha pele frágil
com suas unhas de cristal...

Malévola
que pisa quem te adora
sádica senhora
cheia de nãos
não posso - não vou - não deixo - não
me aporrinhe
não sei como posso amar
a brutalidade de suas palavras
seu coraçãozinho de pedra
seus pés que não posso tocar...


Domingo

Sua pele morena & lisa
queria mapeá-la como a uma ilha do tesouro
para conhecer cada canto,
cada curva e esconderijo
e todos os dias
caminhar por essa ilha da fantasia
livre e solitário
como um pirata, um corsário,
ladrão e senhor do maior dos tesouros do mundo.

Segunda-feira

Menininha prematura
de alma tão velha, tão antiga
queria lhe fazer uma cantiga
que lhe rejuvenescesse a alma,
e a tirasse para dançar...
queria saber chegar
nesse seu mau humor
de assalto, dizendo à tristeza:
Mãos ao alto!
e tocando o terror
arrombando todas as portas
rompendo as cadeias e cordas
que lhe impedem de amar.

Queria ser Aquaman ou Namor,
o Príncipe Submarino
para alcançar, Tristeza, seu palácio
no fundo do mar
mas no lugar de nadadeiras, Deus
deu-me embaraçosas asas.

Dane-se o voo: por ti estou pronto
a descer e me afogar.
Deus me perdoará: desço para salvar Sorrisos,
esses nossos lindos e futuros filhos.

Terça-feira

Amazona, guerreira sereia ondina ninfa
minha musa teimosa & má
tesouro escondido no fim do anarco-íris
que eu nunca alcanço, por mais
que me esforce
- tesouro que não quer ser alcançado -
já não sei o que fazer
melhor te idealizar à distância,
e seguir sonhando com a fragrância
de seu perfume narcótico, alucinógeno,
que me viciou para depois degredar.

Você sabe onde me encontrar:
Estática ilha, estou ao alcance de um estalo de seus dedos,
se um dia você esfolar seus traumas, ou ao menos despir seus medos,
medos de felicidade e cumplicidade; o frio medo do aconchego.


BONUS TRACK: Um princípio num precipício

Ao invés de ser seguida, é ela que segue.
Cerca seu avanço em plena urbe, saia de hippie,
aquele perfume masculino que ela sempre usou,
que em seu pescoço se torna a bruma mais fatal,
um hálito da mistura de Diana e Afrodite
que ela consegue realizar.
Índia malsã, onça e cutia, predadora e presa,
primeira presença
primeira notícia a salvar uma triste semana.
Massagem cardíaca desta quinta feira
fôlego recambiado entre dois duros corações,
espelhos desta cidade má, madrasta
sempre ensaiando devorar o seu secreto
corpo de bailarinos.









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